Entrevista sobre pessoas que voltam aos ex-parceiros (recasamento) dada a Revista Metrópole

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Entrevista sobre pessoas que voltam aos ex-parceiros (recasamento) dada a Revista Metrópole

Entrevista com resposta na íntegra dada a repórter Vilma Gasques da Revista Metrópole que circula aos domingos no jornal Correio Popular sobre pessoas que voltam ao ex-parceiros (recasamento). A matéria foi publicada no dia 11/07/2010.

Repórter: Há dados de uma porcentagem de casais que se separam e voltam a se unir?
Reginaldo: Infelizmente, as informações do Censo Demográfico e das Pesquisas Nacional por Amostra de Domicílios (PNADs), que constituem as principais fontes sobre a composição dos domicílios e das famílias brasileiras, não possibilitam mensurar a proporção de famílias formadas por casais, onde um ou ambos os parceiros são recasados. A boa notícia é que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem aberto canais de discussões com especialistas, técnicos e acadêmicos, buscando alternativas para melhorar a captação destas informações no Censo de 2010 e nas demais pesquisas nacionais realizadas pela instituição.
Repórter: Quanto tempo em média ficam separados?
Reginaldo: É importante deixar claro que o recasamento com os mesmos parceiros acontece, mas não é comum. Das pessoas que atendi e atendo em consultório e de conversas com outros terapeutas o tempo que ficam separados variam muito dependendo de cada caso. Além disso, é uma amostra enviesada porque são pessoas que vem para a terapia de casal para uma nova tentativa no casamento.
Repórter: E se separam no papel? E depois voltam a se casar legalmente?
Reginaldo: Dos casos que atendi, a discussão dos acertos da separação e as dúvidas sobre as vantagens e desvantagens da separação, em geral, demoram, por isso o casal acaba voltando antes mesmo de se separarem legalmente.
Repórter: O que se passa com eles? Descobrem que foram feitos um para o outro? Mesmo depois de terem descobertos que não queriam mais viver juntos.
Reginaldo: O recasamento com os antigos parceiros está relacionado mais a fugir do sofrimento e pode ocorrer pelos seguintes motivos:
1) Dificuldade ou falta de repertório/habilidade – a) Dificuldade ou falta de repertório/habilidade social e afetivo para se envolver em novos relacionamentos amorosos; b) Dificuldade ou falta de repertório social e afetivo que produz sentimento de medo ou dificuldade em lidar com a solidão (principalmente depois de uma certa idade) ou de fazer novos vínculos; c) Insegurança econômica/financeira. d) Medo de se envolver em uma nova relação com alguém desconhecido. e) Regras distorcidas relacionadas a baixa auto-estima do tipo: “Não valho nada.”; “Se eu não voltar com ela viverei sozinho.”; “Tenho 40 anos, já estou velha, a solução é volta com meu ex.”
2) Não conseguir ficar distante dos filhos, familiares ou amigos.
3) Ter esperança – a) A esperança de que o outro tenha mudado; b) Ainda acreditar nos “sonhos construídos” a dois.
4) Avaliação social e status – a) Medo da crítica, julgamento ou avaliação pejorativa do seu grupo social (família, amigos, igreja, colegas, vizinhos etc). A vida de homem separado, por exemplo, é vista como solitária e socialmente negativa. No meio social em que eles circulam, ser um homem adulto, solteiro, sem uma família para cuidar é alguém que é visto com desconfiança, sem credibilidade. Ainda mais porque quando estão separados, eles voltam a circular pelos bares, pelos churrascos depois dos jogos de futebol, a sair com mulheres com quem não mantém relacionamentos fixos. O respeito e a credibilidade social estão no fato de serem homens de família, de terem sob seus cuidados um lar, uma esposa e filhos. Quando estão separados eles perdem não apenas os benefícios de ter cama, comida e autoridade, mas também este reconhecimento social. É comum as queixas masculinas sobre se sentirem esquecidos ou excluídos de festas familiares ou de amigos que antes freqüentavam; b) Por status ou dinheiro – Em alguns grupos e comunidades ser casado com uma pessoa importante produz ganhos sociais, dinheiro ou poder.
5) Arrependimento, medo ou culpa – a) O afastamento pode levar a acreditar que o ex-companheiro, afinal era a pessoa certa; b) A separação ocorreu, por exemplo, porque um dos parceiros teve uma paixão fora do casamento que não durou.
6) Aceitar a nova mulher que é elástica – da consciência de que as mulheres foram afetadas por estarem no mercado de trabalho, em alguns casos por serem também provedoras financeiras de seus lares, de poderem exercer sua sexualidade, das mudanças na forma de encarar a maternidade e a relação com os filhos.
Repórter: Essa volta é benéfica para os dois? Como o senhor avalia isso?
Reginaldo: Para se saber se a volta é benéfica é importante obter algumas informações sobre o histórico do casal, além de saber se ocorreram algumas mudanças. Para isso é importante saber: a) Motivos que os separaram; b) Quem teve a iniciativa. A atitude do outro parceiro; c) Quanto tempo de separação; d) Se permanecem dificuldades anteriores. Se aumentou as habilidades para lidar com o parceiro. Se aumentou a tolerância a frustração; e) Se houve intervenções familiares e quais foram; f) Se teve outros relacionamentos no período de separação e quais as conseqüências disso; g) Se há filhos. A idade deles. Com quem moraram e como lidar com eles. h) Reconciliação: a iniciativa foi de quem? Expectativas de ambos.
A volta pode ser benéfica porque em muitos casos há uma fase inicial de namoro, tal como nas outras relações, e isso pode servir como uma condição motivadora. Por outro lado, o divórcio ou a separação deve ser aproveitado para descobrir o que havia de errado na relação. No segundo casamento espera-se que os casais estejam mais conscientes da relação. Além disso, a volta é benéfica se melhorou a comunicação, o diálogo entre os dois. Neste sentido, ambos precisam ser mais assertivos. Ser assertivo é ter a habilidade de identificar, formular e expressar adequadamente opiniões, desejos, vontades, sentimentos, pensamentos sem ofender ou agredir o parceiro da relação. Isso envolve identificar: o que, como, quando e porque falar algo relevante. Identificar e expressar as próprias expectativas pessoais e as relativas ao casal. Em suma, saber falar e saber ouvir respeitando a si e ao outro, o que não é tão simples. Portanto, se tais mudanças não ocorrerem os parceiros estarão condenados a uma nova separação ou a um casamento infeliz.
Repórter: Quais as vantagens que um casal que já foi casado tem em relação aos outros no sentido de fazer a relação dar certo?
Reginaldo: a) Eles tem mais informações sobre o parceiro.
b) Podem aceitar mais as diferenças e ter claro que algumas características não mudam.
c) Podem receber apoio de familiares e amigos, além de manter estes vínculos.
Repórter: E as desvantagens?
Reginaldo: a) O desejo sexual tende a ser menor com uma parceira conhecida há muito tempo.
b) Pode voltar a ter uma rotina que é aversiva.
c) Os parceiros continuam, em muitos casos, tendo expectativas exageradas ou idealizadas no que diz respeito a companheirismo, atenção e respeito. Os homens esperam que as companheiras sejam excelentes amantes, esposas trabalhadeiras e acima de tudo mães cuidadosas. E além disso, não querem ser cobrados por elas. Em contrapartida, as mulheres esperam que os novos maridos sejam homens que se dediquem ao trabalho e à família, que sejam mais afetivos e carinhosos, que não sejam consumidos por vícios como a bebida, os jogos e as outras mulheres.
Repórter: Prós e contras de namorar o ex-marido.
Reginaldo: As vantagens são: sair da rotina, evitar conflitos por pequenas coisas do dia a dia (principalmente no que se refere à organização da casa e horários.), ganhar privacidade (no caso de morarem em casas diferentes), aumentar a emoção pelo fato de se preparar especialmente um para o outro, fazendo de cada encontro um momento especial.
As desvantagens são: Aumento do custo de vida, menor cumplicidade, brecha para imaturidade. Morar separado pode ser uma forma de resguardar a imaturidade, com sentimentos individualistas e egocêntricos, perdendo a oportunidade de crescer aprendendo um com o outro, cedendo e negociando.
Repórter: O que prevalece nessa hora? É o sentimento, é a relação com os filhos, é a relação financeira?
Reginaldo: O casamento contemporâneo está cada vez mais centrado na questão da satisfação pessoal dos envolvidos. E isso pode ser muito volúvel, pois com o passar do tempo, os projetos e os desejos podem mudar e se tornarem incompatíveis com os projetos e os desejos do companheiro. Na impossibilidade de equacionar estas diferenças, a separação é vista como a melhor e menos prejudicial alternativa para a vida dos parceiros e até mesmo de seus filhos. No entanto, a médio prazo, observa-se que é muito difícil tomar esta decisão porque há muitas variáveis em jogo que devem ser levadas em consideração. Todavia, a variável ou variáveis mais importantes dependerá muito da história de vida de cada parceiro. Para um companheiro que sempre gostou de brincar e participar da formação de seu filho ficar longe dos filhos será muito aversivo. Em contrapartida, para uma mulher que foi dona de casa e cuidadora dos filhos por anos terá muita dificuldade de se arranjar profissionalmente. Neste caso, a curto prazo, a mulher sofreria mais com as perdas econômicas e o homem entraria em sofrimento pela falta dos filhos.