Sobre poema e poetas

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Sobre poema e poetas

“Um bom poema leva anos cinco jogando bola,
Mais cinco estudando sânscrito,
Seis carregando pedra,
Nove namorando a vizinha,
Sete levando porrada,
Quatro andando sozinho,
Três mudando de cidade,
Dez trocando de assunto,
Uma eternidade,
Eu e você,
Caminhando junto”

Paulo Leminski
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A Poesia (Manoel de Barros)

A poesia, a poesia está guardada nas palavras.
É tudo que eu sei.
Meu fardo é não entender quase tudo
Sobre o nada eu tenho profundidades
Eu não cultivo conexões com o real
Para mim poderoso não é aquele que descobre o ouro
Poderoso pra mim é aquele que descobre as insignificâncias do mundo e as nossas
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil
Fiquei emocionado e chorei
Sou fraco para elogios.

Sobre o(a) autor(a): Manoel de Barros nasceu em 1916 em Cuiabá (MT). Advogado, fazendeiro e poeta pantaneiro. Chamado de “Guimarães Rosa da poesia”.

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“Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente …
E não a gente a ele!”

Mário Quintana – A vaca e o hipogrifo

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EU

“eu quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa está por dentro ou está por fora
quem está por fora não segura um olhar que demora
de dentro de meu centro este poema me olha”

Paulo Leminski

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Simultaneidade

– Eu amo o mundo!
Eu detesto o mundo!
Eu creio em Deus!
Deus é um absurdo!
Eu vou me matar!
Eu quero viver!
– Você é louco? –
Não, sou poeta.

Mário Quintana

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O Poema

O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face.

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Motivo

Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e diasno vento.
Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles

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Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido,
Basta provares o seu gosto

Quintana
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O vento e eu

O vento morria de tédio porque apenas gostava de cantar
Mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez mais vazia…
Tentei então compor-lhe uma canção
Tão comprida como a minha vida
E com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela em que menino eu fui roubado pelos ciganos
E fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo…
Mas o vento, por isso
Me julga agora como ele…
E me dedica um amor solidário, profundo!

Mário Quintana
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