Sobre desejos e loucuras

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Sobre desejos e loucuras

“Eu tenho vontade, sim, de ser banal,

De falar de estrelas e de lua,

De por nas coisas todas deste mundo,

Aquele encanto condenado do lugar comum.

Eu tenho vontade de me estirar na estrada,

Cara pro céu, olhos no infinito e assim,

Além,entre poeira e sons,

Deixar que o meu corpo morra por minutos e por minutos,

Eternos, ressuscite.

Eu tenho vontade de ser anjo e gente,

Abelha e flor, para sorrindo e beijando ser céu e chão,

Semente, pólen, vento, redenção.”

Chacal

O Mapa

Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse

A anatomia de um corpo…

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita

Das ruas de Porto Alegre

Onde jamais passarei…

Há tanta esquina esquisita,

Tanta nuança de paredes,

Há tanta moça bonita

Nas ruas que não andei

(E ha uma rua encantada

Que nem em sonhos sonhei…)

Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada,

Serei um pouco do nada

Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,

Suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso…

Pablo Neruda

Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,

Do meu cabelo e até da minha sombra.

Acontece que me canso de ser homem.

Todavia, seria delicioso

Assustar um notário com um lírio cortado

Ou matar uma freira com um soco na orelha.

Seria beloir pelas ruas com uma faca verde

E aos gritos até morrer de frio.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,

Com fúria e esquecimento,

Passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,

E pátios onde há roupa pendurada num arame:

Cuecas, toalhas e camisas que choram

Lentas lágrimas sórdidas.