I) CONCEITUAÇÃO DO TERMO DROGA
•A palavra droga: Da palavra droog (holandes antigo) que significa folha seca.
•Droga para a medicina: Qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento.
•O termo PsicoTrópico: Tropismo – Atração pelo que sentimos, fazemos e pensamos (o que vem do cérebro).
• Substância psicoativa com potencial de abuso e de auto-administração.
II) USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA
•USO: qualquer consumo de uma substância
–Experimental, ocasional, regular
•ABUSO: uso com problemas, uso nocivo
•DEPENDÊNCIA: uso compulsivo, com perda de controle, problemas sérios com Tolerância e Síndrome de Abstinência e estreitamento do repertório.
Síndrome de dependência(segundo critérios do DSM IV).
(1) tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:(a) uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado(b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância.
ABSTINÊNCIA/
Adaptações Crônicas ao Abuso
•Status legal (De acordo com portaria do MS):
•“Droga lícita”
•“Droga ilícita”
•Modo de produção:
2)Variáveis ligadas ao usuário
Em geral os efeitos das drogas variam entre os indivíduos. Uma mesma dose (baseada em mg/kg de peso) administrada a pessoas diferentes pode resultar em concentrações plasmáticas distintas. A variedade nos genes que codificam os receptores alvos de determinada substância, ou enzimas responsáveis pelo término do efeito podem determinar os diferentes graus de reforço, euforia e efeitos desagradáveis observados entre os indivíduos. Um exemplo clássico de como o metabolismo de uma substância pode interferir no abuso da mesma refere-se à aldeído-desidrogenase (ALDH), uma enzima responsável pela degradação do acetaldeído (metabólito do etanol). Em populações do oriente é comum a ocorrência de um subtipo de ALDH menos eficaz. O decorrente acúmulo de acetaldeído após o consumo de álcool provoca efeitos desagradáveis como rubor facial, tontura e dor de cabeça. Consequentemente, pessoas com este subtipo enzimático tendem a não consumir bebidas alcoólicas (Lieber et al., 1991).
Outros fatores genéticos podem contribuir no risco de desenvolver dependência a substâncias de abuso. Foi demonstrado que filhos de alcoólatras têm maiores chances de também se tornarem alcoólatras. Esta tendência foi demonstrada inclusive em gêmeos univitelinos criados por famílias diferentes (Shickit & Smith, 1997). Estudos de QTL (quantitative trait loci) em linhagens de camundongo caracterizadas pelo elevado consumo de etanol revelaram genes associados ao risco de alcoolismo, como o que codifica o receptor D2 para a dopamina e o 5-HT1B para a serotonina. De fato, o polimorfismo no gene humano que codifica o receptor D2 foi proposto como marcador para o risco de alcoolismo, os resultados, no entanto, ainda são controversos (Crabbe et al., 1999).
3)Variáveis ligadas ao ambiente
O consumo de substâncias psicoativas é altamente influenciado pelas regras e pressões da sociedade. No mundo islâmico, por exemplo, o consumo de THC na forma de haxixe é visto como normal e amplamente difundido. O álcool, em contrapartida, é proibido pelos muçulmanos e consequentemente pouco consumido em relação aos países do ocidente. As oportunidades de recreação e ocupação, e educação também possuem influência marcante no consumo de drogas. Um estudo realizado em albergues públicos da cidade de São Paulo demonstrou níveis de dependência ao álcool em torno de 55 % (Sadek, 1991). Geralmente nas parcelas menos favorecidas da população são encontrados os níveis mais altos de abuso de drogas, por isso muitas campanhas governamentais de combate a drogas visam educar e manter estas pessoas ocupadas (através de esportes, arte e outras atividades).
Um ambiente estressante também pode desencadear o consumo de drogas. Foi demonstrado que o stress induzido pelo choque intermitente nas patas de ratos é capaz de desencadear um prolongado e robusto comportamento de procura por heroína em animais previamente treinados para autoadministrar heroína, mesmo após seis semanas de abstinência (Shaham & Sewart, 1995). Este e outros estudos sugerem uma relação biológica interessante entre uso de drogas e stress, já que os seres humanos vivem em uma sociedade cada vez mais estressante.
PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS DROGAS DE ABUSO
Cafeína
A cafeína é a droga psicoativa mais utilizada no mundo. Na América do Norte, por exemplo, 80-90% dos adultos fazem uso regular dessa substância (Gilbert, 1984). A cafeína está presente em diversas fontes alimentares como chás, café, achocolatados, barras de doces e refrigerantes. O conteúdo de cafeína nesses alimentos é variado sendo de 71-220 mg/150 ml de café, 32-42 mg/ 150 ml de chá, 32-70 mg/ 330 ml de bebidas de cola e 4 mg/ 150 ml de achocolatados (Debry, 1994).
Após administração oral, a cafeína é rapidamente e completamente absorvida (cerca de 99%), sendo que os níveis sangüíneos máximos ocorrem após 30-45 min e a meia vida de eliminação é em torno de 4-6 h (Denaro & Benowitz, 1991). O mecanismo de ação primário da cafeína é um antagonismo competitivo de receptores A1 e A2A para a adenosina (Fredholm et al, 1999). Dentre a variedade de efeitos fisiológicos produzidos por essa droga destacam-se: efeitos no sistema vascular cerebral, pressão sangüínea, função respiratória, atividade gástrica e do cólon, alterações no volume urinário e desempenho em atividades físicas (James, 1997). Doses baixas a moderadas de cafeína (20-200 mg) produzem aumento de bem-estar, alegria, energia, alerta e sociabilidade enquanto que altas doses produzem sensações desagradáveis como ansiedade, nervosismo e indigestão (Griffiths et al, 2003). Doses diárias de cafeína não são capazes de promover liberação de dopamina no núcleo accumbens, porém a liberação desse neurotransmissor no córtex pré-frontal (estrutura também envolvida nas vias de reforço) é consistente com as propriedades reforçadoras da cafeína (Nehlig, 1999). A administração crônica de cafeína resulta em tolerância para um grande número de efeitos fisiológicos, subjetivos e comportamentais, sendo que o uso regular desta droga produz dependência física, evidenciando sintomas de abstinência caso o uso da cafeína seja interrompido, acredita-se que as bases biológicas da dependência física sejam relacionadas à sensibilidade aumentada para a adenosina endógena (Griffiths & Mumford, 1995).
Cocaína e anfetaminas
A cocaína exerce seus efeitos por dois mecanismos principais: bloqueio dos canais de sódio, funcionando como anestésico local, e potencialização da neurotransmissão excitatória promovida pelo bloqueio da recaptação de monoaminas, principalmente a dopamina, bem como pela inibição da monoamina-oxidase (MAO) e liberação adicional de adrenalina nas glândulas adrenais (Karch, 1999 e White & Lambe, 2003). Os efeitos reforçadores da cocaína e seus análogos correlacionam-se com a capacidade de impedir a remoção de dopamina da fenda sináptica através do bloqueio do transportador de DA (Figura 2). Isto leva ao aumento da estimulação dopaminérgica nas áreas críticas do cérebro já mencionadas anteriormente (Ritz et al., 1987). Em menor escala ocorre o bloqueio dos transportadores de noradrenalina e serotonina, e o acúmulo de noradrenalina parece ser importante especialmente no sistema cardiovascular. Usuários de cocaína frequentemente descrevem os efeitos como mais intensos e prazerosos que um orgasmo. A patofisiologia do abuso de cocaína (tabela 3) envolve não apenas os efeitos farmacológicos da droga bem como aspectos relacionados à via de administração e estilo de vida do usuário (White & Lambe, 2003). Frequentemente ocorrem sintomas como ansiedade intensa, paranóia e alucinações associadas à hipertensão, taquicardia, hipertermia e depressão respiratória (Stahl, 2002).
Figura 2: Mecanismo de ação da cocaína: A cocaína liga-se ao transportador da dopamina (a) impedindo a recaptação desta. O excesso resultante de dopamina na sinápse é responsável pelos efeitos comportamentais observados da cocaína. Em menor escala ocorre a ligação aos transportadores de serotonina e nora-drenalina (b), resultando no acúmulo destes neurotrans-missores (adaptado de Caine, 1998).
Repetidas exposições à cocaína podem produzir adaptações complexas do sistema dopaminérgico, incluindo tolerância e o fenômeno oposto, chamado sensibilização ou tolerância reversa. Um exemplo de tolerância reversa que pode acontecer com alguns indivíduos é a psicose paranóide observada em doses que anteriormente produziam apenas euforia. A psicose paranóide gerada pela intoxicação por cocaína é praticamente indistingüível daquela observada na esquizofrenia (Stahl, 2002). Em virtude de a cocaína ser tipicamente utilizada de modo intermitente, mesmo os usuários mais freqüentes passam por períodos de abstinência caracterizados por intensa disforia, anedonia (incapacidade de sentir prazer algum), sonolência, fadiga, bradicardia e forte desejo pela cocaína (Goodman & Gilman, 2001).
Etanol
O mecanismo de ação de qualquer droga é determinado principalmente pela sua estrutura química e sua interação com um receptor no organismo. Uma estrutura simples como a do etanol, no entanto, não possui a complexidade necessária para atuar especificamente sobre um receptor, e é mais provável que seus efeitos decorram da ligação em diversos sítios de ação.
O etanol possui um efeito depressor bem conhecido sobre o sistema nervoso central. Paradoxalmente, a sociabilidade e euforia aumentam em concentrações sangüíneas abaixo de 50 mg/dl, produzindo um efeito semelhante ao dos estimulantes. Nesta dose os indivíduos freqüentemente ficam mais falantes e, em alguns casos, violentos e agressivos. Em concentrações sangüíneas de 50 – 100 mg/dl o efeito depressor passa a dominar, refletindo em distúrbios no equilíbrio, concentração e tempo de resposta aumentado. Vale notar que, no Brasil, 60 mg/dl é o limite permitido por lei para conduzir um automóvel. Ataxia, fala arrastada e prejuízo na função motora e mental, incluindo distúrbios na memória de curta duração, estão presentes em concentrações de 100 – 150 mg/dl. Concentrações mais altas levam progressivamente à perda dos sentidos, coma e morte por parada respiratória (Hunt, 1998).
O etanol é capaz de afetar todas as células do organismo, mas grande parte de suas ações ocorrem em neurônios. Uma das propriedades do álcool é a de modificar a permeabilidade da membrana celular, por uma perturbação em lipídeos da membrana neuronal (Seeman, 1972; Tabakoff & Hoffman, 1983; Hunt & Maychrowitcz, 1985). Embora a influência do etanol sobre as membranas celulares seja comprovada, ela não explica as ações desta droga sobre elementos que regulam a atividade elétrica de neurônios nas concentrações observadas fisiologicamente. Portanto, nos últimos vinte anos a pesquisa tem se voltado às ações do álcool sobre neurotransmissores específicos, receptores que interagem com estes, canais iônicos e mensageiros intracelulares.
Vários neurotransmissores estão envolvidos nos efeitos do etanol. Provavelmente por ação no sistema colinérgico, por exemplo, o álcool provoque prejuízo cognitivo e perda de memória (Hodges et al., 1991). Já as propriedades sedativas e ansiolíticas parecem estar ligadas a uma ação no sistema dos receptores para o ácido g-aminobutírico (GABA), considerado o neurotransmissor inibitório mais abundante no sistema nervoso central (Tabakoff et al., 1996). O sistema glutamatérgico, que desempenha função excitatória no sistema nervoso central, responsável em algumas patologias como as convulsões, é bloqueado pelo etanol (Dildy-Mayfield & Leslie, 1989) e está envolvido no desenvolvimento de tolerância (Khanna et al., 1991, 1992). O sistema dopaminérgico tem sido associado com a sensação de recompensa e satisfação gerada pela administração de álcool (Nevo & Hamon, 1995) e o sistema opióide, por mediar ações do etanol no sistema dopaminérgico, pode interferir na resposta de recompensa possivelmente através da liberação de b-endorfinas (Gianoulakis, 1993; Herz, 1997).
Tolerância a diversos efeitos do álcool, como ataxia, hipotermia, rubor facial e sonolência desenvolve-se rapidamente, mesmo após uma única dose. A tolerância ao etanol torna-se mais evidente com o consumo crônico, sendo que alguns indivíduos chegam a suportar uma dose tão alta quanto 400 mg/dl sem apresentar sintomas grosseiros de sedação. Como ocorre com outras drogas, no entanto, a tolerância não se desenvolve de modo uniforme aos diversos efeitos. Não há tolerância aos efeitos cardio-respiratórios (elevando o risco de morte por superdosagem) e dados demonstrando tolerância aos efeitos reforçadores ainda são altamente controversos (Kalant, 1996; Beridge, 2003).
A interrupção abrupta do consumo crônico de etanol leva a um quadro de abstinência caracterizado pela exacerbação dos sistemas de neurotransmissores excitatórios, especialmente o glutamato. Sintomas comuns incluem sudorese, tremores, hipertermia, irritabilidade, hipertensão, insônia e forte desejo pelo álcool (compulsão). Casos graves podem levar ao quadro de delirium tremens, onde podem ocorrer alucinações visuais e táteis, confusão mental, agitação severa, convulsões e em alguns casos, óbito. A síndrome de abstinência ao álcool normalmente é tratada com benzodiazepínicos (diazepam, clordiazepóxido) ou anticonvulsivantes (carbamazepina) (Goodman & Gilman, 2001).
Algumas drogas já se encontram disponíveis para o tratamento do alcoolismo. O dissulfiram, um inibidor da aldeído-desidrogenase, foi a primeira substância aprovada para esta finalidade. Ao inibir a aldeído-desidrogenase o dissulfiram provoca o acúmulo de acetaldeído caso o paciente venha a ingerir bebidas alcoólicas, levando a sensações desagradáveis como náusea, dores de cabeça e rubor facial. Questões éticas limitam o emprego do dissulfiram e, mesmo com o consentimento do paciente, muitos se recusam em tomar a medicação após algum tempo. Em meados dos anos 1990 a naltrexona, um antagonista opióide, foi aprovada pelo FDA no tratamento do alcoolismo. Este medicamento demonstrou reduzir significativamente o consumo de etanol (Volpicelli et al., 1997), bem como o número de episódios de consumo exagerado (O’Malley et al., 1996). Os trabalhos em grupos de pacientes que receberam álcool e naltrexona demonstraram que a sensação de bem-estar subjetiva decorrente do consumo de álcool diminui significativamente (Volpicelli et al., 1997). É possível que a naltrexona atue na redução do reforço associado ao consumo de etanol, já que este efeito parece ser mediado pela liberação de opióides endógenos. A naltrexona também reduz o desejo por bebidas alcoólicas, ajudando o paciente a manter o estado de sobriedade. Outro medicamento que tem demonstrado eficácia no tratamento do alcoolismo é o acamprosato. Embora seu mecanismo de ação não seja conhecido (há indícios que seja um agonista parcial do receptor NMDA) este medicamento reduz o reforço do etanol de modo semelhante à naltrexona. Além do dissulfiram, naltrexona e acamprosato, o antagonista canabinóide SR-141716A demonstrou eficácia na redução do consumo de álcool etílico e, atualmente, encontra-se em fase pré-clínica de pesquisa.
Opióides
Desde tempos bíblicos extraídos da seiva da papoula (Papaver somniferum), os opióides (como a morfina, heroína, metadona, codeína) são atualmente os mais potentes analgésicos conhecidos, de fundamental importância clínica no tratamento da dor. São também, por suas propriedades sobre o humor, abusados fora da legalidade e constituem um importante problema de saúde pública. A heroína, opióide mais utilizado de forma abusiva; quando administrada liga-se aos receptores opióides m, d e k produzindo euforia muito intensa, porém breve, seguida de sensação profunda de tranqüilidade e desligamento, capaz de durar várias horas. Doses elevadas resultam em efeitos aversivos como náuseas, sudorese e ansiedade. Na superdosagem ocorre indução de coma, depressão respiratória e, não raro, óbito. A síntese de agonistas seletivos para os subtipos de receptores opióides permitiu separar alguns efeitos mediados pelos mesmos; os efeitos euforiantes e analgésicos, por exemplo, parecem estar associados à ativação dos receptores m e d-opióides, enquanto que a ativação do receptor k-opióide parece mediar os efeitos desagradáveis (Froelich & Li, 1994).
Tolerância aos efeitos analgésicos e euforiantes ocorre rapidamente após a administração repetida de opióides, levando à necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito. Como não ocorre tolerância aos efeitos sobre o controle da respiração, aumenta o risco da indução de coma e morte por parada respiratória em usuários crônicos. A suspensão abrupta do uso resulta em uma síndrome de abstinência severa, caracterizada por uma série de sintomas como: piloereção, dilatação das pupilas, sudorese profusa, irritabilidade, sensibilidade aumentada à dor (hiperalgesia), diarréia, vômitos, febre, disforia e intenso desejo pela droga. De fato, a síndrome de abstinência aos opióides é muito importante na manutenção do consumo, e frequentemente outras substâncias (como benzodiazepínicos ou álcool) são abusadas com intuito de reduzir estes sintomas.
A intoxicação aguda (superdosagem) por opióide pode ser revertida com a administração endovenosa de naloxona, um antagonista de ação rápida. A naloxona, no entanto, pode desencadear os sintomas da síndrome de abstinência. Normalmente no processo de desintoxicação é utilizada metadona ou outra medicação opióide de longa duração, com retirada gradual de modo a evitar a síndrome de abstinência. Durante a manutenção da metadona, os pacientes não irão passar pelos “altos e baixos” decorrentes do uso de heroína; o desejo pela heroína diminui e pode, com tempo, desaparecer (Kreek, 1992). Recentemente a buprenorfina, um agonista parcial do receptor m, vem sendo utilizada em alternativa à metadona. Além disso, uma formulação da naltrexona (antagonista) de liberação prolongada que permite 30 dias de medicação após uma única injeção pode ajudar pacientes recém desintoxicados que possuam alto risco de recaída (Goodman & Gilman, 2001).
Maconha
O sistema endocanabinóide de neurotransmissão foi uma das mais importantes descobertas da psicofarmacologia no final do século XX. Este sistema é composto por dois subtipos de receptores, CB1 e CB2, ambos acoplados à proteína G inibitória, sendo o primeiro predominante no cérebro e responsável pela maioria dos efeitos comportamentais observados após a administração do THC. O receptor CB2, por sua vez, encontra-se predominantemente nas células do sistema imune, e pode ser responsável pelos efeitos imunossupressores dos canabinóides (Piomelli, 2003).
Figura 3: Mecanismo de síntese dos endocanabinóides. Na região CA1 do hipocampo a despolarização da membrana (1) abre canais de Ca2+ ativados por voltagem em neurônios piramidais, promovendo (2) o aumento da concentração de Ca2+ intracelular. O Ca2+ pode (3) estimular a síntese de 2-araquidonilglicerol (2-AG) através da diacilglicerol lipase (DGL) ou a síntese de anandamida através da via da fosfolipase D (não demonstrada). Os novos endocanabinóides formados podem atravessar a sinapse para interagir com (4) receptores CB1 em terminais axônicos de neurônios GABA ou (5) receptores CB3 em fibras glutamatérgicas (Adaptado de Piomelli, 2003). Diversas preparações de Cannabis sativa e Cannabis indica são conhecidas, e variam de acordo com a concentração do delta-9-tetrahidrocanabinol, principal agente farmacológico ativo. O haxixe extraído da resina da planta, por exemplo, possui concentrações que variam de 8 a 12 % de D-9-THC. Na maconha, proveniente das folhas secas, esta concentração fica em torno de 2 a 4,5 %. Ao ser inalado o D-9-THC cruza rapidamente a barreira hematoencefálica e atinge os receptores CB1. O início da ação é rápido, permitindo ao usuário modular a dose desejada. Em doses habituais de intoxicação, a maconha produz sensação de bem estar, relaxamento, sociabilidade, perda da noção de tempo, lentificação dos processos de pensamento, prejuízo da memória de curto prazo e momentos especiais de introspecção. Em doses altas pode induzir pânico, delirium tóxico e psicose (Rang & Dale, 1994).
Desde os anos 1970 todas as tentativas de produzir uma autoadministração robusta de D-9-THC em animais de laboratório fracassaram. A autoadministração, no entanto, ocorre com agonistas sintéticos do receptor canabinóide, como o WIN 55,212-2, CP 55,940 e HU-210 (Navarro et al., 2001). O comportamento de autoadministração é bloqueado pelo antagonista canabinóide SR 141716-A e também pela naloxona, sugerindo uma interação entre os sistemas opióide e canabinóide (Tanda et al., 2000).
Há controvérsia sobre o potencial do consumo crônico de THC em causar dependência. Os processos de tolerância, no entanto, são bem documentados em humanos e aparecem rapidamente após as primeiras doses. Sintomas de abstinência não são tipicamente observados na clínica, mas podem ser induzidos pela administração do antagonista CB1. O fato do THC se acumular nos tecidos gordurosos, propiciando uma reserva que é liberada aos poucos para a corrente sangüínea, pode explicar a ausência de uma síndrome de abstinência marcante. O consumo prolongado pode resultar em um estado conhecido com síndrome amotivacional caracterizada pela falta de iniciativa, ambição e deterioramento das atividades sociais como trabalho, estudo e relações interpessoais, e é freqüentemente observado em adolescentes (Stahl, 2002).
Inalantes
Uma grande variedade de substâncias químicas com diversas características faz parte desse grupo de drogas que são administradas por via inalatória (“cheiradas”). Os solventes orgânicos como tetracloreto de carbono, tolueno, gasolina, fluorcarbonos e aerosóis são os principais representantes desse grupo de substâncias que apresentam como característica comum uma elevada lipossolubilidade que permite uma fácil passagem pela barreira hematoencefálica produzindo alterações de consciência similares aos estágios I e II da anestesia. O mecanismo de ação dessas substâncias não é bem compreendido, porém parece estar relacionado com alterações na matriz lipídica de membranas neurogliais no sistema nervoso, bem como modificações no “turnover” e síntese de neurotransmissores.
Os efeitos do uso de inalantes começam poucos minutos após a administração e duram em torno de 15-45 min. Muitos usuários mencionam como efeitos: uma desinibição com uma sensação de flutuação, mistura de percepções ou ilusões, nuvens de pensamentos, sonolência e amnésia após inalação intensa. Os sinais de intoxicação aguda incluem uma enorme variedade de sintomas fisiológicos como irritação ocular, sensibilidade à luz, visão dupla, escuta de sons, irritação de membranas mucosas do nariz e da boca e tosse. Também pode ocorrer náusea, êmese, diarréia e arritmias cardíacas (Schuckit, 1995).
Drogas dissociativas – Fenciclidina (PCP)
A fenciclidina (PCP) foi desenvolvida na década de 1950 como um anestésico cirúrgico intravenoso, sendo depois classificada como anestésico dissociativo. Seus efeitos sedativos e anestésicos são similares a estados de transe e usuários dessa droga relatam experiências de saída do corpo e separação do meio ambiente. A PCP já foi utilizada na prática veterinária, porém seu uso em humanos nunca foi aprovado em virtude de problemas colaterais graves como delírios e agitação extrema vivenciado por pacientes logo após o término dos efeitos anestésicos.
Quando fumada ou inalada, a PCP atravessa rapidamente a barreira hematoencefálica e altera a função de canais NMDA (principal alvo no SNC) e altera a neurotransmissão dopaminérgica sendo este efeito responsável pelos efeitos de euforia. Em doses baixas (5 mg ou menos), os efeitos físicos incluem respiração acelerada, aumento da pressão arterial e da temperatura corporal. Doses acima de 10 mg afetam de maneira grave a pressão arterial, freqüência cardíaca e a função respiratória, sendo freqüentemente acompanhadas por náuseas, visão borrada, tonturas e diminuição da percepção dolorosa. Contrações musculares podem causar movimentos descoordenados e posturas bizarras, sendo que em níveis severos podem progredir para fraturas ósseas e danos renais em conseqüência da degradação do tecido muscular. Doses muito elevadas de PCP podem causar convulsões, coma, hipertemia e morte.
Os usuários dessa droga relatam após uma única administração: destacamento da realidade incluindo distorções espaciais e temporais. A partir da segunda administração já podem ser observados efeitos mais graves como alucinações, pânico e medo, sendo que em usuários crônicos pode ocorrer comportamento desorientado, violento e suicida. (NIDA, 2001).
Alucinógenos
Os alucinógenos são drogas que produzem intoxicação associadas a mudanças nas experiências sensoriais, que incluem alucinações visuais e auditivas, consciência ampliada de estímulos externos, bem como dos pensamentos e estímulos internos. Pode ocorrer também labilidade emocional, lentificação subjetiva do tempo, sensação de que as cores são ouvidas e os sons vistos (sinestesia), intensificação da percepção do som, despersonalização e desrealização. É importante salientar que todos estes efeitos podem ser experimentados sob completo estado de vigília e alerta. Outras mudanças que podem ocorrer incluem ansiedade, náusea, pânico, taquicardia, aumento da pressão sangüínea e da temperatura corporal (Stahl, 2002).
Os alucinógenos fazem interações bastante complexas com os sistemas de neurotransmissão, porém, o efeito alucinógeno parece estar relacionado à atividade agonista no receptor 5-HT2A para a serotonina visto que esses compostos, sejam derivados de plantas (mescalina, psilocibina e ibogaína) ou sintéticos (LSD), apresentam grande similaridade química com esse neurotransmissor (NIDA, 2001). A indução de tolerância pode ocorrer após a administração de uma única dose, possivelmente por mecanismo de invaginação do receptor 5-HT2A. O potencial destas drogas em gerar dependência, no entanto, é fraco ou mesmo ausente. Um fenômeno interessante e único aos alucinógenos é a ocorrência de flashbacks, ou seja, a recorrência dos sintomas de intoxicação mesmo dias ou meses após o término da ação da droga. O mecanismo dos flashbacks ainda não é bem conhecido, mas pode envolver sensibilização (tolerância reversa) extremamente duradoura com mecanismos semelhantes à formação de memórias (Stahl, 2002).
“Club Drugs”
Club Drugs são um grupo de drogas sintéticas que vêm sendo usadas a partir de 1980 em atividades recreativas, principalmente festas em “boates” e as conhecidas como “raves”. Dentre as diversas substâncias químicas que se enquadram nesse grupo, é interessante mencionar as quatro mais conhecidas e utilizadas: MDMA (êxtase), flunitrazepam (Rohypnol), ketamina e γ-hidroxibutirato (GHB).
O êxtase apresenta estrutura química similar à metamfetamina e à mescalina, apresentando propriedades tanto estimulantes como alucinógenas. O MDMA aumenta a liberação de serotonina, dopamina e noradrenalina das terminações nervosas pré-sinápticas e dificulta o metabolismo desses neurotransmissores por inibição da MAO. O resultado é um acúmulo de neurotransmissores na fenda sináptica, sendo o excesso de dopamina e serotonina responsáveis pelas propriedades alucinógenas. Os principais efeitos do uso dessa droga incluem euforia, introspecção, alteração da percepção visual, aumento da libido, aumento da energia, percepção distorcida do tempo e diminuição da fome e sede. Desidratações e hipertemia são freqüentes em usuários de êxtase em virtude de horas de dança ininterruptas, também pode ocorrer taquicardia, midríase, tremores, palpitações e hipertensão resultantes da estimulação simpática. Dentre os principais efeitos neurológicos destacam-se confusão, delírio, paranóia, dor de cabeça, anorexia, depressão, insônia e irritabilidade os quais podem permanecer mesmo semanas após o uso. Estudos de tomografia de emissão de pósitrons (PET) em usuários dessa droga revelam redução significativa no número de transportadores para serotonina e estudos com animais revelam alterações irreversíveis em axônios serotonérgicos (morte neuronal) que pode explicar os efeitos semelhantes a síndromes do pânico e esquizofrenia, mesmo após o término do uso (Smith et al, 2002).
O flunitrazepam (Rohypnol) é um potente benzodiazepínico (ver acima) com uso legalizado para anestesia pré-operatória (sedação) e tratamento de insônia em 60 países na Europa e América Latina. Em baixas doses o rohypnol atua como ansiolítico, relaxante muscular e hipnótico-sedativo geral, porém em altas doses a droga pode causar perda do controle muscular e da consciência. Os principais efeitos adversos do uso dessa droga incluem hipotensão, tontura, confusão, distúrbios visuais, retenção urinária e, em alguns casos, comportamentos agressivos. Pode ocorrer dependência, sendo que os principais sintomas de abstinência são dores de cabeça, tensão, ansiedade excessiva, dor muscular, fotossensibilidade e tremores (Smith et al, 2002).
A ketamina, usada comumente na prática veterinária, é um anestésico dissociativo com mecanismo de ação semelhante à fenciclidina (ver anteriormente) atuando em canais iônicos NMDA. Também interage com alguns sistemas de neurotransmissores, incluindo receptores celulares muscarínicos, nicotínicos e opióides, podendo também inibir a recaptação de noradrenalina, dopamina e serotonina. Os efeitos ocorrem 30-45 min após a ingestão ou inalação da droga e incluem analgesia podendo promover amnésia em doses mais altas. Alguns usuários relatam experiências de saída ou flutuação do corpo, alucinações visuais e incoordenação motora também são comuns. Toxicidade cardiovascular pode se desenvolver em decorrência da ativação simpática ocorrendo hipertensão, taquicardia e palpitações. Usuários apresentam como outros efeitos psicológicos: negativismo, hostilidade e delírio. Por se tratar de uma droga inodora, insípida e incolor pode ser misturada a bebidas para facilitar o abuso sexual, uma vez que promove na vítima alucinações, amnésia anterógrada, perda de consciência e dificuldade de discernir acontecimentos reais de fictícios (Smith et al, 2002).
O GHB ou ácido γ-aminobutírico é um derivado lípidico do GABA ocorrendo naturalmente e estando envolvido na mediação do ciclo do sono, temperatura corporal, metabolismo cerebral da glicose e memória (Li et al, 1998). Sua administração de fontes exógenas data de 1990 sendo introduzido nos EUA como suplemento alimentar. Após 15-30 min da administração oral observam-se os efeitos depressores sendo dose-dependentes e variando de amnésia, hipotonia e euforia até dificuldades respiratórias, tremores, coma e morte (doses acima de 50 mg/Kg). Outros efeitos que podem ser observados são bradicardia e hipotensão, êmese e hipertemia. Também podem ser utilizados em situações de abuso sexual de maneira semelhante à ketamina, bem como por apresentarem propriedades de estimulação sexual deixando a vitima susceptível e incapaz de reagir frente a situação de abuso (Smith et al, 2002).
Uso múltiplo ou combinado de drogas
Até agora só foi comentado o efeito de administração isolada de drogas, porém o que se observa, em muitos dos casos, é um uso combinado de muitas drogas. Não é raro, por exemplo, o uso em conjunto de estimulantes e depressores com o objetivo de diminuir os efeitos indesejáveis como depressão ou excitação excessiva. Apesar da complexidade de efeitos de uso múltiplo ou combinado de drogas o que torna difícil de prever os efeitos em conjunto, algumas considerações gerais podem ser feitas.
O uso combinado de duas ou mais drogas depressoras como álcool e benzodiazepínicos, por exemplo, pode ter algumas conseqüências graves como depressão respiratória, coma e morte quando usados simultaneamente, sendo que também pode ocorrer tolerância cruzada quando uma droga é administrada anteriormente a outra, devido a mecanismos de ação semelhantes, principalmente nos receptores GABA (Schuckit, 1995).
Também não é raro o uso combinado de estimulantes e depressores, principalmente em indivíduos alcoolistas, onde se observa a administração de um estimulante para atenuar os efeitos indesejáveis como sonolência, tremores e ansiedade, entretanto, é difícil de prever complicações decorrentes desse uso de drogas com mecanismos de ação bastante diversificados no SNC.
O etanol também é usado com outras drogas como opióides e canabinóides, por exemplo, sendo que se verifica desenvolvimento de tolerância cruzada entre álcool e maconha. Tanto o sistema opióide como o canabinóide estão envolvidos nas propriedades reforçadoras do etanol, verificando-se uma interação complexa entre a administração combinada dessas drogas com o álcool (Manzares et al, 2005). Também é interessante ressaltar que os efeitos agudos também são potencializados quando ocorre o uso simultâneo de álcool e maconha, evidenciando maior prejuízo em atividades motoras e atenção (Schuckit, 1995).
Em usuários de cocaína, o uso de álcool pode intensificar os efeitos dessa, aumentando a sua metabolização ao composto cocaetileno que apresenta mesmo mecanismo de ação e efeitos similares, porém com meia vida cerca de três vezes maior, isso poderia explicar, pelo menos em parte porque a overdose em usuários de cocaína é bem mais freqüente quando os mesmo fazem ingestão simultânea de álcool (Farre et al, 1997).
Similaridades na ação clínica e na estrutura química de alucinógenos e estimulantes pode levar a uma potencialização dos efeitos dessas drogas quando comparado com o uso isolado (Schuckit, 1995).
Além desses, diversos outros tipos de associações entre drogas são verificadas, sendo que podem ter complicações desde moderadas até mesmo gravíssimas, dependendo de quais drogas e em que quantidade são administradas.
Para terminar, é interessante comentar que o uso de drogas é comum entre os seres humanos e qualquer um pode estar susceptível a se tornar dependente de alguma destas por isso é interessante compreender o mecanismo de ação das mesmas e seus efeitos, principalmente no sistema nervoso central, antes de começar a usá-las e abusá-las. Não é intenção entrar em uma discussão política e filosófica, porém é interessante perceber que, mesmo drogas lícitas e plenamente aceitas pela sociedade (café, álcool e nicotina, por exemplo) podem promover complicações gravíssimas em usuários agudos e, principalmente crônicos.
SUGESTÃO DE FILMES
RÉQUIEM PARA UM SONHO (“Requiem for a Dream”): O diretor Darren Aronofsky conta a perturbada e frenética história de personagens que se envolvem com seus sonhos e vícios. Com Ellen Burstyn, Jared Leto e Jennifer Connelly. Recebeu uma indicação ao Oscar.
TRAINSPOTTING – SEM LIMITES (“Traispotting”): Num subúrbio de Edimburgo, quatro jovens sem perspectivas mergulham no submundo para manter seu vício pela heroína. Com direção de Danny Boyle (Cova Rasa) e Ewan McGregor e Robert Carlyle no elenco. Recebeu uma indicação ao Oscar.
DESPEDIDA EM LAS VEGAS (“Leaving Las Vegas”): Um roteirista alcóolatra perde o emprego e decide partir rumo a Las Vegas, onde vive um tumultuado caso de amor com uma prostituta acuada por seu cafetão. Dirigido por Mike Figgis (Por uma Noite Apenas) e com Nicolas Cage, Elisabeth Shue e Steven Weber no elenco. Vencedor do Oscar de Melhor Ator.
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