Sobre intenção, propósito e consciência na Psicologia Comportamental

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Sobre intenção, propósito e consciência na Psicologia Comportamental

Entrevista feita no dia 07-01-2009 pela repórter Francine Moreno do Jornal Diário da Região. O Diário da Região é o maior jornal da região Noroeste do Estado, circula em 96 municípios e tem tiragem diária de 23,5 mil exemplares, com 29 mil exemplares aos domingos.
Para quem quiser mais informações acesse o site: http://www.diarioweb.com.br/.

Francine Moreno: Todos nós temos um propósito. Mas como podemos resumi-lo? O que ele representa na vida?
Reginaldo: O conceito de “propósito” na Psicologia é bastante controverso. Há escolas psicológicas que não gostam do conceito porque envolve futuro e coloca a causa dos comportamentos no indivíduo e não na sua história de vida. No behaviorismo, por exemplo, quando se fala em propósito estamos falando sobre o conceito de comportamento operante.
O conceito de comportamento operante é utilizado para tratar das ações tradicionalmente consideradas voluntárias. Que tem orientação para o futuro, embora não possa ser explicado pela sua finalidade. Tais comportamentos parecem dotados de um propósito porque são dirigidos para certas finalidades ou objetivos e, principalmente, porque o próprio indivíduo é capaz de relatar de forma distorcida a intencionalidade ou finalidade de sua conduta.
A idéia de finalidade ou propósito é tratada, com o conceito de operante, de modo similar ao tratamento darwiniano da noção de finalidade na evolução das espécies. Também no caso do comportamento há uma direcionalidade, porque as formas de conduta que não têm resultado favorável vão sendo gradualmente abandonadas, enquanto aquelas que têm conseqüências reforçadoras vão sendo progressivamente diferenciadas. Nos dois casos a explicação teleológica é substituída pela idéia de seleção das variantes melhor sucedidas (variantes de caracteres individuais em um caso e variantes de comportamento no outro caso).

Francine Moreno: O que acontece com pessoas que bloqueiam a consciência do seu propósito?
Reginaldo: Quando o indivíduo tem consciência destas razões, pode-se dizer que o comportamento é proposital. A consciência é resultado de poderosas contingências de história de vida, mantidas em certas culturas que dão especial valor ao autoconhecimento e encorajam o relato verbal do comportamento e de seus objetivos ou razões. O sujeito que tem consciência de seus comportamentos tem mais controle sobre seu comportamento e seu ambiente.

Francine Moreno: Quando você está cumprindo seu propósito, o trabalho diário se torna prazeroso?

Reginaldo: Não obrigatoriamente. Na verdade o seu “propósito” vai depender de sua história de vida. Se o sujeito que tem uma história de vida extremamente aversiva. Imagine um indivíduo que aprendeu a trabalhar excessivamente por obrigação e não porque gosta e assim evita criticas. Ele terá pouco prazer em fazer, haverá mais sentimentos de alívio que satisfação. E ainda assim ele estará cumprindo o seu “propósito”.

Francine Moreno: Existe um caminho ou fórmula para estar conectado com seu propósito?
Reginaldo: Há um sentido em que o propósito pode desempenhar um papel causal mais ativo. Isto ocorre quando o indivíduo torna-se capaz de tomar consciência do seu “propósito”. De fato, o comportamento operante pode ocorrer sem que exista, por parte do indivíduo, consciência do que está fazendo. Consciência aqui é entendida como a capacidade de relatar para os outros ou para si próprio o que ocorreu. Na realidade, o comportamento operante ou “propósito” é basicamente inconsciente, e a consciência só surge, eventualmente, no curso da vida do homem, como um produto social. A consciência aí pode envolver a capacidade de relatar a própria ação ou os sentimentos que a antecedem e, num nível bem mais elaborado e mais difícil de atingir, o dar-se conta das razões do próprio comportamento.

Francine Moreno: Seu propósito permite o desenvolvimento do seu potencial e o leva a fazer diferença no mundo?
Reginaldo: Não. O que faz mudança no mundo é 1) entender as causas e detrminantes dos seus comportamentos, chamo isso de “consciência”. Mas só consciência dos seus comportamentos não modifica comportamentos. E é necessário 2) modificar seus comportamentos para fazer diferença. Em suma, desenvolver comportamentos mais adaptados e diminuir os comportamentos desadaptados a sociedade a partir de comportamentos operantes.

Francine Moreno: Você já conquistou um objetivo e mesmo assim continuou sentindo um vazio por dentro. Neste mote, propósito tem a ver com o porque você escolhe um objetivo?
Reginaldo: Quando você cumpre um objetivo que envolve contingências aversivas. Ou seja você se comporta pela responsabilidade da tarefa e pela alta cobrança e exigência para uma outra pessoa. Isso para não receber punições ou lidar com situações aversivas. A partir disso o sentimento produzido, muitas vezes é de alívio e não satisfação. Portanto conquistar objetivos pode produzir sentimentos de estar vazio.

Francine Moreno: Como é possível descobrir quando uma pessoa está conectada com seu propósito?
Reginaldo: Estamos o tempo integrado com um “propósito” o que acontece é que muitas vezes não temos consciência disso. Os seres humanos freqüentemente não têm consciência da razão de sua conduta e, comumente, admitem razões distorcidas em virtude da repressão ou outras formas de controle que têm origem no meio social. Nestes casos, os indivíduos não têm consciência do real “propósito” de suas ações. As razões pelas quais um indivíduo se comporta são as conseqüências reforçadoras que mantêm o seu comportamento. Ou seja sua história de vida. Quando o indivíduo tem consciência destas razões, pode-se dizer que o comportamento é proposital. A consciência é resultado de poderosas contingências de reforço, mantidas em certas culturas que dão especial valor ao autoconhecimento e encorajam o relato verbal do comportamento e de seus objetivos ou razões.

Francine Moreno: Não há propósitos pequenos ou insignificantes. Todos são valiosos e importantes?
Reginaldo: Não. Há propósitos dos mais diversos graus de importância e valor o que vai depender é da historia de vida da pessoa, da sua genética e de seu contexto cultural. Se você tem alguns limites biológicos e a sua história de vida é pobre de aprendizados logo você terá “propósitos” mais empobrecidos. Logo o “propósito” do homem é construído pela sua história genética, ambiental e cultural.

Francine Moreno: Quando está alinhado com seu projeto, mesmo os maiores desafios tornam-se jogo cheio de motivação?
Reginaldo: Se pensarmos que projeto é meta e isso depende de uma história de vida, sim. Quando o indivíduo tem consciência do seu “propósito” ele pode explicitá-lo na forma de uma regra de conduta ou uma resolução e assim conquistar seus projetos e fortalecer tais comportamentos mais bem sucedidos.

Francine Moreno: Perguntar a si mesmo e aos seus amigos quais são as habilidades que o tornam especial, é uma chave para encontrar seu propósito?
Reginaldo: Uma boa chave para encontrar seu “propósito” é buscar auto conhecimento. E isso adquirimos através de livros, discussões com pessoas relevantes, boas palestras, psicoterapia etc. Skinner afasta-se, assim, da concepção corrente de que um comportamento intencional é causado por uma intenção previamente formulada no mundo da mente. A “causa” do comportamento deve ser procurada na história anterior do indivíduo, em interação com a herança genética. Isto não implica negar a existência de uma condição que anteceda o comportamento e que seja sentida pelo indivíduo como uma intenção ou desejo. Apenas, para Skinner, esta é uma condição corporal, constando de estímulos privados e provavelmente respostas precursoras do comportamento a ser manifestado. Embora esta condição seja real e possa, em grande parte dos casos, ser sentida pelo indivíduo, por exemplo, na forma de uma “inclinação” ou “tendência” para agir, ela não deve ser tomada como uma causa do comportamento subseqüente. De fato, a tendência ou inclinação é tão resultante da história quanto o comportamento subseqüente e, como tal, não pode ser tomada como uma verdadeira causa. Ela seria mais um correlato do comportamento, resultante, como ele, das contingências de reforço a que o indivíduo foi exposto.

Francine Moreno: Entrar em contato com seu propósito de vida é aprender com as experiências que não deram certo antes. Pois ao fracassar você ganha a oportunidade de mudar de direção e ir ao encontro de seu propósito?
Reginaldo: Não, isso não é verdade. Fracasso é aversivo ao indivíduo por isso ele tende a evitar fazer de novo aquilo que ele fracassou. O que acontece é que diferentemente de outros animais o homem também é governado por regras. E se ele estabelecer uma regra eficiente de que pode aprender com seus erros. Ele pode usar esta regra ou estratégia a seu favor para corrigir antigos erros e ser bem sucedido. Com este ganho fortalece esta regra e fortalece comportamentos mais adaptados aquela situação.