Por que há tantos discursos sobre depressão no mundo contemporâneo?

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Por que há tantos discursos sobre depressão no mundo contemporâneo?

É fato que a depressão vem aumentando vertiginosamente a cada ano por causa dos diagnósticos mais coerentes, pelas dificuldades afetivas e estresses vividos no mundo contemporâneo… No entanto, há em alguns casos excessos em rotular determinados fenômenos como depressão: A simples tristeza virou depressão. É muito comum pesquisar na internet e encontrar textos sobre depressão e final de ano; depressão e separação e muitos contextos aversivos associados à depressão. Parece que isso virou uma tendência. Na sociedade atual, infelizmente, há muitos casos de profissionais da Psicologia e Psiquiatria que alcunham uma série de fenômenos como depressão. Uma estratégia para impactar o público e infelizmente uma forma inadequada de eliciar pessoas para seus consultórios. A televisão também para aumentar sua audiência pode usar rótulos de depressão para sacudir o telespectador em uma época que impera a mídia espetáculo e a luta desenfreável pelo aumento da audiência a qualquer custo.

Então, qual a diferença entre tristeza e depressão?

A tristeza é um sentimento normal, faz parte da vida. Não é um sentimento patológico. A tristeza é inerente ao ser humano porque a vida impõe limitações. Inclusive a tristeza é saudável na vida para mostrar que há algo errado e que precisa de mudanças. A tristeza pode ser transformada em criação. Como é o caso de pessoas que escrevem poesias, fazem pinturas, contam histórias… Logo, é uma emoção saudável. De fato se a pessoa passar por perdas e fracassos e não ficar triste isso é sinal que ela não está bem. A tristeza existe como uma emoção que denota a perda de estímulos reforçadores (perda do emprego, fim de um relacionamento, morte de pessoa querida, frustrações cotidianas…). No entanto, ela pode surgir sem mesmo uma causa bem definida. A tristeza é um fato mais isolado e geralmente compreendido pela situação que a pessoa está passando e não causa prejuízo funcional, neste caso a pessoa pode trabalhar no emprego ou em casa e agir de forma a solucionar seus problemas no seu cotidiano. Uma pessoa saudável que passa pela tristeza, elabora perdas e fracassos e ganha valores como paciência e tolerância a frustração o que a torna mais madura para a vida.

A tristeza passa, a depressão habita. Na tristeza o conjunto de características comportamentais associadas à melancolia é menor que na depressão. Na tristeza a pessoa se movimenta mais, na depressão o corpo se movimenta pouco, o esforço é maior. Na depressão a pessoa evita mais o contato social, em geral, não quer conversar. Na depressão a fatores de pré-disposição genética, de aprendizagem (negligência parental no ensinamento de habilidades para enfrentamento da vida) e traumáticos (abusos sexuais e físicos; punições, abandono e rejeição). Na depressão, no mínimo durante três semanas, há alteração do sono (um aumento ou diminuição do sono), diminuição do desejo sexual, diminui muita a capacidade de concentração, de memória e raciocínio (alterações cognitivas), surgem ruminações negativas, pensamentos mórbidos ou pessimistas tomam conta da mente (distorções cognitivas), elicia sentimento de medo de viver ou medo do futuro, pode ter muita fome ou pouca fome (alteração do apetite), fadiga, cansaço, perda de energia, labilidade do humor ou alta responsividade aos acontecimentos (se emocionar facilmente), desânimo ao acordar… Na tristeza tudo isso acontece em menor frequência, duração e intensidade dos sintomas e quando a pessoa passa por eventos intensamente agradáveis ela consegue mudar o humor para melhor. Na depressão isso já não acontece. Neste último caso, há prejuízos em contextos familiares, profissionais e sociais.

Medicalizando a vida e dificultando mais

Por uma questão econômica a indústria farmacêutica estimula a classe médica a diagnosticar ou rotular uma série de fenômenos psíquicos como depressão com o objetivo de vender mais medicamentos. Os médicos no mundo atual estão medicando desnecessariamente a tristeza. Está ocorrendo um doping social. As pessoas estão se entupindo de remédios como se fossem doces para aliviar a dor psíquica. Na maioria das vezes, o uso é feito sem parcimonia, sem critérios e sem acompanhamento. Há quem diga que é apenas chorar durante a consulta que determinados médicos, seja qual for a sua especialidade, prescrevem antidepressivos (medicamentos para depressão) ou ansiolíticos (medicamentos para ansiedade). Isso pode ocorrer também porque o médico não tem tempo de escutar. Consultas mais longas diminuem a quantidade de atendimentos.

Caminhos possíveis

Um bom profissional da Psicologia e Psiquiatria deve distinguir claramente uma tristeza de uma depressão para avaliar melhor seus pacientes e propor um tratamento mais coerente. No caso se for tristeza, o profissional adequado é o psicólogo, ou seja, a tristeza não deve ser medicada, no caso de depressão leve, moderada e severa os profissionais indicados são os psiquiatras e psicólogos trabalhando conjuntamente.

Boa parte dos problemas de humor envolve a falta de projetos de vida, habilidades para enfrentar problemas, dificuldades afetivas e melhores condições de vida. Portanto, se um tratamento não passar por atender essas demandas será ineficaz.