Festas de final de ano e a tristeza bate a sua porta. Por que? E o que fazer?

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Festas de final de ano e a tristeza bate a sua porta. Por que? E o que fazer?

É muito comum um grande grupo de pessoas chegarem ao final do ano e começarem a ter um rebaixamento na autoestima e muitas até ficarem muito tristes. Neste último caso, como se fosse uma tristeza sazonal ou um abatimento sem motivo aparente. Vale ressaltar que estas pessoas em geral estão tristes e não deprimidas porque para diagnosticar uma pessoa com depressão é necessário avaliar a duração, intensidade e frequência dos sintomas associados à depressão e o quanto este transtorno deixou a pessoa incapacitada.

Por que, então, algumas pessoas ficam tristes no final de ano?

Algumas pessoas mais vulneráveis e suscetíveis à tristeza ou a determinadas angústias podem ficar mais sensíveis a eventos associados a frustrações ou fracassos como:

  1. Balanço do ano e sentimento de não realização: John Lennon iniciou uma canção famosa da sua fase pós-Beatles com o seguinte verso: “Então é Natal / E o que você tem feito?” (Merry Christmans – War Is Over). Final do ano parece que é um período de avaliação, cobrança e arrependimento de tudo que ocorreu durante o ano. Período que as pessoas param de trabalhar, saem do automático e fazem reflexões principalmente existenciais sobre sucessos e fracassos. Neste sentido, as pessoas podem se decepcionar devido as expectativas ou metas estabelecidas que não foram atingidas. É como se o saldo fosse negativo. Em um mundo capitalista, por exemplo, uma pessoa pode ficar triste porque não conseguiu comprar sua mansão. Uma ideia falsa de que a felicidade e o bem estar é comprado materialmente. Mas esta decepção pode ocorrer no campo amoroso, profissional, físico (não perder peso) e assim por diante. Em geral, as mulheres sofrem mais porque tendem mais a fazer mais avaliações negativas de si mesmas. O pior ainda é quando para homens e mulheres os sonhos estão ligados exclusivamente ao status, sendo que mesmo alcançado não melhora a verdadeira autoestima.
  2. Estresse de final de ano: O final de ano é marcado pelo fim de um ciclo. A somatória de atividades no ano produz estresse o que colabora com a possibilidade da pessoa diminuir sua autoestima ou ter uma mudança de humor para pior, em geral associada à irritabilidade, tristeza e agressividade devido ao cansaço;
  3. Lembranças de perdas e fracassos: Muitas pessoas deprimem porque o período está condicionado a perdas ou encontros aversivos. Memórias emocionais remotas aversivas, lutos e saudades. Um pai que morreu e não estará mais presente no Natal. Um irmão que é dependente de cocaína e as consequências aversivas de tal dependência. O natal pode ainda ser triste pela lembrança que os pais não estão mais juntos. Ou ainda, brigas familiares e situações mal resolvidas: Uma separação, um desemprego ou uma doença…;
  4. Obrigações e papeis familiares: Uma família desunida e falsa que é obrigada a estar junta para cumprir o papel familiar mesmo com seus integrantes se detestando e não se permitindo se envolver afetivamente;
  5. O peso da idade: Dificuldade de lidar com a idade e a velhice;
  6. Disparidade entre o real e o visto na televisão: As imagens distorcidas de propagandas e programas de TV com pessoas extremamente felizes festejando o Natal e o Réveillon levam a acreditar na alegria de todas as famílias e na falta de alegria na própria vida;
  7. Expectativa, idealização e obrigação de ser feliz: Cobrança de estar feliz porque a regra social é ser feliz no final de ano. É como se existisse o complexo do período perfeito. As pessoas precisam estar se abraçando, sendo felizes e dando presentes. Na verdade, muitas pessoas não entram no espírito natalino e nem deveria existir essa obrigatoriedade. Pessoas pouco observadoras de suas histórias de vida e contextos e que compram essas expectativas quando não sanadas sofrem em demasia.
  8. Problemas financeiros: Muitas pessoas podem passar por problemas financeiros e neste período de avaliação podem se sentir culpadas ou irresponsáveis pela falta de recursos;
  9. Regras inatingíveis e preocupação com o status: A cultura da comparação e os modelos de perfeição (ideal de beleza, ideal de status…) vendidos em nossa cultura. Neste caso envolve a regra ou crença: “Se você não tiver seu um milhão de reais até seus 30 anos você é um fracassado”;
  10. O erro e a culpa: A cultura capitalista que é embasada no determinismo, comparação e competitividade, de certa forma, é responsável por criar essa ideia de metas e realização desses objetivos. Os erros são inevitáveis em qualquer fase da vida porque o homem está em um constante aprendizado. Devido ao excesso de cobranças dos pais, das escolas, familiares etc desenvolve-se regras de que não se pode errar, quando isso acontece sente-se culpa. Sabe-se que muitas pessoas deprimidas são muito exigentes consigo mesmas e com os outros;
  11. Dificuldades socio-afetivas;
  12. Falta de repertório para lidar com as situações acima citadas: Neste caso, a pessoa não foi preparada para resolver problemas ou evitar determinadas dificuldades.

O que se pode fazer para lidar com este humor rebaixado?

a) Sonhos realizáveis: Estabelecer novas metas para o próximo ano que sejam mais realistas. Fazer um planejamento mais coerente. Vale riscar da lista de metas a ideia de perder vinte quilos, comprar a casa dos sonhos ou ser promovido à presidente da empresa principalmente se não há chances disso acontecer. Ter metas é bom, desde que elas sejam alcançáveis. É preciso adequar os desejos às possibilidades;

b) Aumentar a quantidade de atividades prazerosas: O que levanta o ânimo de uma pessoa depende da história de vida dela. Para uma jovem sair e conversar com os amigos pode ser muito saboroso, no entanto, para outra não pode ser. A pessoa precisa descobrir quais são as atividades que produzem prazer e neste período precisa degustar mais destas atividades. Segue abaixo uma lista de possibilidades:

1) Atividades relacionadas à casa: atividades prazerosas que podem ser realizadas dentro de casa: assistir televisão: filmes, novelas, séries, jornais, documentários, programas de televisão… ; jogos de tabuleiro: xadrez, dama, dominó, war, cartas, banco imobiliário, detetive… ; navegar na internet: redes sociais, pesquisar, baixar músicas, baixar filmes, baixar programas de computador, baixar jogos… ; conversar ao telefone; jogar vídeo game; ouvir música; fazer o café da manhã ou o chá da tarde; limpar a casa; organizar coisas na casa; tomar um banho demorado; assistir filmes ou documentários em aparelho de DVD ou no computador; fazer orações; ler um livro: romance, comédia, bíblia, Literatura, Literatura fantástica, informações, autoajuda…

2) Atividades relacionadas a novos conhecimentos, atualizações, informações e cultura: ler livros, ler revistas, jornais, quadrinhos…; fazer pintura, desenho, escultura…; estudar idiomas; tocar um instrumento musical: violão, guitarra, violino, flauta…;  ir em uma exposição de arte; participar de sarais culturais…

3) Busca de rede ou suporte socio-afetivo: sair com amigos; fazer visitas a parentes; fazer visitas a amigos; receber visitas da família ou parentes, receber visitas de amigos, fazer uma refeição com os amigos, comer lanche com os amigos, Ir para um lugar para conversar, comer, beber… enviar uma carta ou e-mail, participar de algum grupo…

4) Atividade física: Pilatesacademiapraticar corridapraticar caminhadanadar; andar de bicicleta; praticar esportes de equipe: futebol, vôlei, basquetebol…; jogar tênis, andar de patins ou skate…

5) Atividades para diminuir o estresse ou para distração:  viajar para praia; viajar para o campo; fazer compras; ir ao cinema; sair para comer; dar uma volta…

c) Aumentar os contatos sociais e afetivos: Quando aumenta o contato social e afetivo com qualidade melhora o humor e a autoestima prevenindo e evitando a depressão;

d) Participar de atividades que ajudem outras pessoas: A participação de atividades sociais que colabore ou ajude grupos pode também melhorar a autoestima da pessoa altruísta;

e) Evitar o rigor excessivo consigo mesmo: Evitar fazer julgamentos sobre si neste período que o rebaixem. A avaliação precisa ser racional e por isso observando todas as variáveis que estão em jogo para não fazer uma avaliação distorcida e culposa;

f) Oportunidade social e afetiva: O fim de ano é uma ocasião em que as pessoas estão mais propícias a ouvir, perdoar e restabelecer vínculos afetivos. Vale a pena aproveitar este momento. E até demonstrar afeto e carinho;

g) Ter iniciativa: Tanto no dicionário da vida, quanto no dicionário comum a palavra sorte vem sempre depois de experiência e preparo. Infelizmente há um erro no consenso popular sobre o comportamento e as emoções das pessoas. Uma opinião generalizada e equivocada comum é que deve-se mudar o sentimento antes de poder mudar o modo como se comporta. Na verdade, mudamos nossas emoções e desenvolvemos mais repertórios para enfrentar as dificuldades da vida é movimentando, tendo iniciativas;

h) Superar a si mesmo: As pessoas precisam aprender a dar prioridade a superar a si mesmo e não focar superar os outros. Veja um corredor de atletismo. O seu maior adversário na maior parte do tempo é ele mesmo. Seu treino exige que ele faça cada vez mais tempos menores. Não há ninguém do seu lado, seu maior adversário é o seu cronômetro, é a sua superação. Com efeito, superar os outros é consequência da superação de si. Como disse Platão: “Vencer a si próprio é a maior das vitórias.”

i) Buscar psicoterapia;

j) Mudança de perspectiva: Saber que a avaliação da própria vida não pode apenas ocorrer no final do ano mas o processo de reflexão, autoconhecimento e mudança precisa ser constante ao decorrer do ano. Isso envolve inclusive saber o que se pode e o que não pode fazer diante de uma situação. Quais os limites e possibilidades.

k) Desenvolver tolerância a frustração: A vida é cheia de perdas e frustrações: casamentos que se desfazem, pessoas queridas que morrem, festas que não são boas, pessoas que não vão te ajudar… Precisa-se aprender a toleras os fracassos e perdas e aceitar como a vida funciona.